Parar ou não a terapia… Eis a questão.


Outro dia uma pessoa muito querida pediu minha opinião a respeito da continuidade do processo de terapia dela. Disse que gostaria de parar, mas a terapeuta insistia que ainda tinham coisas a trabalhar. Queria minha opinião, pois não sabia se seria uma resistência dela ou mesmo da psicóloga.

Este questionamento me fez refletir muito sobre a relação entre terapeuta e paciente no que tange ao encerramento do trabalho.

Quando começamos um processo de psicoterapia na maior parte das vezes não temos a noção exata de quanto tempo durará e o que iremos encontrar pela frente, embora tenhamos uma queixa inicial.

Na minha prática sempre que concluo uma “alta” sinto um misto de satisfação, orgulho e algo como uma “saudade” boa. Satisfação por observar os resultados de meu trabalho. Faço isso através de uma avaliação de quais queixas foram atendidas, quais conquistas e ferramentas internas foram desenvolvidas. O orgulho vem da constatação de que a pessoa já é capaz de lidar com seus problemas e gerenciar as adversidades inevitáveis da vida de maneira satisfatória e adequada ao objetivo que a levou a me procurar. A “saudade” boa vem de saber que agora farei parte do passado do paciente e isto é bom, pois, se acabou é porque funcionou.

A decisão de parar é algo discutido, trabalhado e avaliado sempre por ambos.

Porém nem todos encerram o processo com a chamada “alta”, alguns decidem parar pelos mais diversos motivos.

Há situações onde a terapia esbarra em defesas internas e a pessoa ainda não se sente pronta a enfrentá-las. Nossa mente é infinitamente competente e sábia no que diz respeito a nos proteger. Se algo inconsciente de alguma maneira é entendido como perigoso à nossa psique, com certeza ela buscará evitar acesso a este conteúdo e a pessoa prefere parar à lidar com a situação. Nestes casos não tento “prender” o paciente e convencer a continuar. Converso sobre ainda terem coisas a serem olhadas, mas que respeito sua decisão e me coloco a disposição para quando sentir necessidade de voltar. Às vezes isto basta para rever o processo e retomar; outras vezes a pessoa vai e volta depois de um tempo; outras, não voltam. De qualquer forma fico tranquila pois acredito ter feito o meu melhor.

Em algumas situações não há empatia comigo e isso é natural, afinal somos dois seres humanos nos relacionando e, com certeza, não agrado a todos e nem sou agradada por todos.

Existem também aqueles pacientes que buscam resultados rápidos. Colocam no terapeuta uma expectativa muito grande de lhes trazer soluções mágicas e se frustram quando percebem que o profissional, embora detenha o conhecimento e as técnicas, não dará respostas prontas. Nestes casos, busco explicar o processo. Geralmente utilizo a metáfora da semente que o jardineiro aduba, mas é ela quem guarda em si todo o potencial para se desenvolver no tempo certo, não é a quantidade ou qualidade de adubo ou água que fará com que a semente se torne árvore antes do tempo. Às vezes funciona, outras não e tudo bem, aceito, respeito e me coloco à disposição para uma possível volta (este talvez seja um outro assunto para um outro artigo…).

O fator financeiro, a falta de recursos, também pode determinar a interrupção do processo e quanto a isto não tenho muito o que fazer. Aliás este fator pode interferir em ambos os lados. Alguns profissionais buscam reter seus pacientes por questões financeiras. Não tento fazer isso porque acredito que estarei me movimentado contra minha prosperidade e não a favor dela.

E por falar dos motivos que fazem com que o terapeuta dificulte o encerramento do processo, um deles é encarar o fato do paciente resistir à continuidade como um desafio a ser superado. O psicólogo foi treinado a identificar bloqueios a serem encarados. Confesso que já pensei assim e aprendi que não funciona, quem sabe o que quer ou não trabalhar é o paciente que, como ser humano, nunca estará totalmente resolvido e sempre terá algo a superar.  

Não podemos esquecer também que terapeuta é um ser humano e traz consigo as próprias questões internas, carências afetivas e manter um paciente pode estar ligado a uma delas. Quando percebo que isto pode estar acontecendo comigo busco ajuda através de uma supervisão, afinal, eu também nunca estarei totalmente pronta.

Não esgotarei aqui todos os motivos que levam, tanto um lado quanto outro, a desejar manter ou parar a terapia, mas vale ressaltar apenas que acredito ser importante de tempos em tempos realizarem uma pausa no processo para avaliar o andamento. Costumo fazer isto quase como uma rotina no final do ano. Peço para a pessoa identificar quais foram suas conquistas até aquele momento e quais são os desafios a serem enfrentados; também lhes dou um feedback claro e objetivo. Muitos dos processos de alta começaram a partir deste momento.

Voltando à questão da pessoa querida, disse a ela que seria bom conversar francamente com sua terapeuta sobre os motivos que a fazem querer parar e se colocar em escuta ativa para buscar compreender o outro lado, afinal fizeram um bom trabalho até ali. Se após esta conversa continuar firme no propósito de parar e a terapeuta continuar discordando, sugeri que experimente interromper por um tempo o processo e sentir como lida com a vida sem a terapia, afinal sempre poderá voltar.

Para encerrar trago uma citação de Carl Gustav Jung:

“O principal objetivo da Terapia Psicológica, não é transportar o paciente para um impossível estado de felicidade, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência diante do sofrimento. A vida acontece no equilíbrio entre a alegria e a dor. Quem não se arrisca para além da realidade jamais encontrará a verdade”.

…simples assim…

Comentários desabilitados